terça-feira, 14 de junho de 2016

A Mãe é Green Entrevista Rita Faleiro


Nome: Rita Faleiro
Idade: 31
Formação/Profissão: Professora
Filho: Pedro, 3,5 anos



1.Qual é o tipo de alimentação que praticas e há quanto tempo?

Neste momento sou ovo-lacto-vegetariana. Comecei a minha caminhada há 2 anos e meio, no primeiro Verão de vida do meu filho. Dei-lhe um pouco de seitan, que por acaso tinha feito, e verifiquei que ele gostava. Entretanto tinha começado a fazer dieta e a carne começou a cair-me mal, sentia-me pesada e enfartada quando a comia; assim, comecei por só comer perú e frango e, ao ver que o meu filho comia bem comida vegetariana, ganhei a força necessária para eliminar a carne. No entanto, continuei com peixe porque não comecei este caminho pelos animais, como a maior parte dos vegetarianos. À medida que o tempo foi passando, comecei a não conseguir desassociar a comida que tinha em cima do prato do animal que em tempos tinha sido. Cada vez me fazia mais confusão comer peixe, comecei a evitar mas não conseguia eliminar. Só o eliminei definitivamente em 2015, ao fazer um plano crudívoro de um mês. Foi o “empurrão” que precisei. Durante algum tempo consegui eliminar igualmente lacticínios e ovos; porém, com a vida profissional que levo, é-me impossível de momento seguir esse regime. Assim, neste momento, tenho uma alimentação sem carne nem peixe mas ocasionalmente consumo ovos e lacticínios (estes últimos muito mais raramente que os ovos).

2.Porque é para ti importante uma alimentação vegetariana?

Para mim, uma alimentação vegetariana tornou-se importante por me ter apercebido de quanto sofrimento e crueldade eram causados aos animais para nos podermos alimentar. Não me faz sentido neste momento continuar a contribuir para isso. Sei que sou só uma, e que não é por mim que os animais vão deixar de ser mortos, mas tal como eu existem cada vez mais pessoas e pode ser que um dia as coisas mudem. Há tantos alimentos livres de crueldade, por que razão teremos de matar para nos alimentarmos? Na minha cabeça, deixou de fazer sentido. Junto a isso as questões de saúde, pois como já referi comecei a sentir-me muito melhor ao alimentar-me de maneira diferente. Atenção, não digo que deixei de gostar de carne ou de peixe. Ocasionalmente ainda me apetece um peixe grelhado – afinal, foram quase 30 anos a comer de tudo. Porém, é uma opção minha não o fazer.

Pizza com base de couve-flor e queijo vegetal

3.O facto de teres filhos mudou alguma coisa na tua alimentação? Toda a família tem a mesma alimentação?

Sim, posso dizer que o facto de me ter tornado mãe em 2012 foi o verdadeiro início da minha mudança alimentar. De repente tinha um ser pequenino nas minhas mãos, que dependia de mim para tudo, e isso começou a fazer-me olhar para os outros seres também como seres que tinham mãe, pai, filhos. O amor que eu sinto pelo meu filho de certeza não é maior que o amor que as mães de outras espécies sentem pelos seus! Assim, e aliando a isso o facto de ter começado a não me cair bem a carne, ao verificar que o meu filho gostava de comida vegetariana, tive a força necessária para mudar. Lembro-me até da frase que disse ao vê-lo deliciado comer um pouco de seitan “Gostas, filho? Então pronto! Vamos começar a comer assim!”.
Em casa, sou a única vegetariana. O meu marido não é, embora coma 90% vegetariano. Cada vez compra menos carne em nossa casa, e peixe também. Relativamente ao nosso filho, como nós lhe introduzimos a carne e peixe (são dois pais a decidir, não apenas eu), optámos por não retirar. Privilegiamos em nossa casa uma alimentação vegetariana (e em minha casa, vegan mesmo, pois eu não cozinho já com alimentos de origem animal, apenas os consumo fora de casa), mas fora de casa o nosso filho come tudo. Por uma questão de igualdade, porém, combinámos também que próximos filhos serão educados como vegetarianos. Mentiria se eu dissesse que não me faz confusão ver o meu filho comer carne. Faz. Mas também sei que ele gosta de carne porque nós a introduzimos, e acho que é muito pequenino para o fazer sofrer ao retirar. Vou esperar que com o tempo ele perceba que nós não comemos, e que futuros irmãos não vão comer. Creio que não vai ser difícil – ele adora comida vegetariana e muitas vezes se tiver carne à frente mas me vir comer um hambúrguer vegetal, vem pedir o meu “tofu” (para ele, é tudo “tofu”...).

4.Sentes algum preconceito quando dizes que és vegetariana ou que praticas uma alimentação saudável?

Já senti mais. Sim, há sempre quem ache que os vegetarianos só comem alface, ou que são grilos, mas até nem posso dizer que sinta muitos preconceitos. Creio que cada vez mais há pessoas que se informam e que começam a optar por esta alimentação “alternativa”, pelo que os preconceitos começam a diminuir. Se calhar sou eu que tenho sorte, mas a verdade é que não sinto grandes preconceitos pelos que me rodeiam. Sinto mais preconceitos no que diz respeito, por exemplo, ao não querer dar açúcar ao meu filho (e ele come pouco açúcar, mas mesmo assim mais do que eu gostaria), do que por dizer que sou vegetariana. Sim, existem sempre as perguntas “então o que é que comes”, mas nem as entendo numa perspectiva de gozo, entendo mesmo como dúvidas de quem não sabe que é possível alimentar-se de maneira diferente.

Sopa de abóbora com nata vegetal e sementes de abóbora

5. No teu café tens cliente que pedem opções vegetarianas?

Quando eu e o meu marido decidimos arriscar e mudar de vida, e pensámos abrir este café, a Sinfonia 25, já eu era vegetariana. Assim, e sabendo que tínhamos que ter algo que nos diferenciasse dos outros cafés que nos rodeiam, decidimos apostar num conceito diferente a todos os níveis – inclusivamente nas ofertas alimentares para os nossos clientes. Por essa razão, sempre quisemos incluir ofertas vegetarianas. Somos um café “misto”. De início, não tínhamos muitas pessoas a pedir as opções vegetarianas. Mas com o passar do tempo, há cada vez mais clientes que nos pedem os galões com leite vegetal, os batidos de fruta com leite vegetal, os folhados de espinafres, ou mesmo as tostas vegetarianas, feitas com um “queijo” à base de tofu, com levedura de cerveja e polvilho azedo, e com espinafres, ananás, abacate... Oferecemos ainda uma salada vegetariana, cheia de vida e cor, e que cada vez tem mais adeptos.
As opções vegetarianas no nosso café são como diz o Fernando Pessoa... “Primeiro estranha-se.... depois entranha-se.”

6. Visto que costumas viajar consegues encontrar comida facilmente fora de casa?

Depende. Eu como muito em centros comerciais, devido à minha vida profissional. Aí, é fácil encontrar comida vegetariana – vou sempre a uma casa de saladas que tem uma salada vegetariana. Há duas semanas, dizia-me a rapariga que eu sou a única cliente que a pede. Além disso, se se for a um Joshua Shoarma ou a um Burger Ranch, há opções vegetarianas – mas e de saudável o que têm?
Onde sinto mais dificuldade é nos restaurantes “normais”. Muitos só têm na lista carne ou peixe, e por vezes nem uma omelete aceitam fazer. Assim, quando isso acontece, acabo por pedir um prato com arroz, salada e batata.

7.Quais os 5 ingredientes essenciais que tens de ter sempre em casa?
Não sobrevivo em casa sem:
  1. Arroz integral
  2. Leguminosas (grão, feijão, lentilhas, etc) 
  3. Legumes frescos (trago muito da horta dos meus pais)
  4. Farinha integral/de milho/de grão
  5. Tofu ou seitan

8. Que sugestão de receitas nos podes dar que toda a gente adora?
Pequeno-almoço: Aprendi, com o blog “Green aos 30”, uma receita deliciosa de overnight oats: coloco a fruta, a aveia, a chia e o leite vegetal. Delicioso, rápido de preparar, e dá para aguentar a manhã toda até à hora de almoço.
Almoço/Jantar: Há uma receita que nunca me falha: um belo salteado de legumes, em óleo de côco, temperados com várias especiarias (uso sempre pimenta, cravinho, cominhos, cardamomo, gengibre...), e a acompanhar tofu marinado em sumo de laranja, e grelhado também em óleo de côco e no final juntar umas sementes de sésamo. Acompanho ainda com uma salada de verdes (agrião, canónigos, alface) e cebola, cenoura ralada e sementes. Não falha.
Snack/Lanche: Por norma, como fruta, ou um sumo natural de vegetais ou, quando o resto falha, um iogurte de soja.

Tofu em óleo de côco com sementes de sésamo, acompanhado de batata cerejada e legumes com molho caseiro (leite vegetal, condimentos, engrossado com goma guar)

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